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Publicado em Zero Hora, Opinião, 12/11/96
Em sua coluna publicada em ZH (domingo, 27/10), o sr. Elio Gaspari usa seu sempre jocoso personagem Eremildo, o idiota, para destilar preconceitos latentes nesses tempos de desmonte do serviço público. A afirmação de que professores universitários são promovidos automaticamente a cada dois anos, não apenas reflete a desinformação do jornalista, ela configura flagrante injustiça contra professores que, dedicados à função pública, submetem-se a rigorosos critérios de promoção, a qual não pode ocorrer em intervalos inferiores a dois anos, nem é automaticamente concedida ao final desse período. Enquanto representativo extrato social, a universidade certamente reflete as contradições da nossa população, e na mesma medida em que podem existir jornalistas desinformados, pode ser variável o nível de exigência para a promoção docente, em um ou outro setor de uma ou outra universidade.

Mas, ao contrário do que pensa Eremildo, o idiota, existem sim critérios de promoção que consagram o respeito ao mérito acadêmico. No caso da UFRGS, a regulamentação aprovada pela Comissão Permanente do Pessoal Docente (CPPD), é tal que não basta ao professor ministrar suas aulas, ele necessita atuar em pelo menos mais uma das seguintes áreas: pesquisa científica (com publicação), orientação de estudantes de iniciação científica ou de pós-graduação e prestação de serviço sob a forma de extensão universitária. E ainda assim, a simples atuação nessas diferentes áreas não garante a promoção. Há que se cumprir um mínimo de tarefas ao longo de dois ou mais anos. Tais regulamentos e procedimentos são ajustados pelos diversos departamentos, institutos e faculdades, às suas peculiaridades. Por exemplo, no Instituto de Física, não basta sequer apenas publicar para ter essa tarefa aceita no procedimento promocional. Há que se publicar em revistas científicas de respeito internacional.

Não fossem criteriosos os mecanismos de recrutamento e promoção docente nas universidades federais, não seriam significativas suas contribuições à produção científica nacional. Uma prova disso é o levantamento publicado pelo jornal Folha de São Paulo (FSP), em 21/05/95. Dos 170 cientistas brasileiros selecionados pelos critérios de mérito da FSP, 69 pertenciam ao conjunto das universidades federais; 66 às universidades estaduais paulistas (USP, UNICAMP e UNESP), e apenas 1 pertencia a uma universidade privada (PUC/RJ).


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