Crônica de julho/2000
C.A. dos Santos
Instituto de Física - UFRGS
Escreva-me, críticas e comentários são bem-vindos

 
 

A INTERNET COMO FONTE DE RECURSOS DIDÁTICOS

A popularização da Internet foi recebida com grande euforia por quase todos os usuários potenciais de recursos didáticos. A grande imprensa não pára de fazer entusiasmada apologia desse meio de acesso à informação. Por força de ofício me vi obrigado a "navegar" nesse conturbado "mar" para imediatamente descobrir, com tristeza, o quanto ele está impregnado de informações equivocadas e de comportamentos claramente fraudulentos, pelo menos no que se refere à propriedade intelectual. Por exemplo, é bastante comum a divulgação de material didático sem qualquer referência à fonte consultada. A situação seria menos dramática se todos os "surfistas" estivessem preparados para separar o "joio" do "trigo". No entanto, estamos muito distantes disso. Vários dos meus alunos, alguns de excelente nível, referem-se a páginas de conteúdo duvidoso como se ele, o conteúdo, fosse a mais pura expressão da verdade.

Em tese a Internet poderia ser isso que todos imaginam que é, mas a espontaneidade e a liberdade do processo, juntamente com as peculiaridades das ferramentas de busca, colocam no mesmo nível materiais de reconhecida qualidade e aqueles duvidosos ou claramente equivocados. Qualquer um que conheça rudimentos de html (HyperText Markup Language) é capaz de colocar uma página na internet. Se tiver habilidade para a criação de recursos animados é capaz de impressionar profissionais da informática, pela "qualidade do site". Se tiver conhecimento do uso de "meta-informações" poderá colocar sua página nas primeiras posições da maioria das ferramentas de busca. Tudo isso pode ser feito sem qualquer relação com a qualidade e a originalidade do texto.

Para escrever este comentário, fiz um breve levantamento com a palavra-chave "efeito fotoelétrico", usando diversas ferramentas de busca, entre as quais destaco: aeiou, AOLsearch, aonde, altavista, google, guiaweb, hotbot, lycos, prokura e radaruol. Não me dei ao trabalho de somar o total de páginas recuperadas (uma tarefa trabalhosa, considerando-se que várias páginas aparecem em várias ferramentas de busca), mas para se ter uma idéia da quantidade basta ter em mente que só o Lycos recuperou 341 páginas!

Analisei as páginas mais freqüentes, sem levar em conta o estilo literário e o domínio gramatical, bastante pobre em várias delas. Encontrei alguns termos equivocados, tais como: "elétrons fotoelétricos", ao invés do termo usual fotoelétrons, "trabalho de arranque", ao invés de função trabalho, "limite vermelho do efeito fotoelétrico", ao invés de freqüência de corte. Os termos usuais aparecem nos textos mais populares editados no Brasil, de modo que não sei de onde o autor da página tirou a sua peculiar terminologia, até porque não há qualquer referência bibliográfica em qualquer das páginas do "site", uma falha imperdoável, e bastante comprometedora do ponto de vista da propriedade intelectual.

É possível que este autor tenha sido "influenciado" por textos editados em Portugal, mas não tenho conhecimento dessa literatura para fazer esse tipo de exame. É possível também que ele tenha resolvido fazer uma tradução especial dos textos editados em língua inglesa. De qualquer forma, há expressões que sugerem uma ou outra alternativa, como por exemplo: "aparelhos de controlo"; "grelha" (ao invés de grade); "directa"; "eléctrodos"; "potencial de paragem" (ao invés de potencial de corte ou potencial de freamento). Na literatura inglesa costuma-se usar o termo stopping potential, que o autor deve ter traduzido como "potencial de paragem". Todavia, o termo stopping é mais propriamente traduzido como freamento.

Clicando páginas aqui e ali, perde-se tempo, sendo pior quando ele não pode ser recompensado por uma boa leitura. Encontrei uma página constando simplesmente de um desenho representando uma onda (fóton) interagindo com um elétron e a ejeção de um fotoelétron. Acima da figura a seguinte frase: "Os estudos de Einstein demonstraram que, no efeito fotoelétrico, o feixe luminoso emitido se comporta como um fluxo de fótons, cada um dos quais com energia hn, em que h é a constante de Planck e n a freqüência da radiação". Além da ausência de referências bibliográficas, uma clara transgressão dos direitos da propriedade intelectual, há "sites" que sequer prestam informação sobre o autor. Em alguns "sites" o efeito fotoelétrico e algumas das suas aplicações são discutidos em meia página.

Concluíndo, sugiro alguns procedimentos para valorizar a produção original e honesta de material didático na Internet.

No plano individual:

  • ter muita cautela com páginas ".com". Se nesse tipo de página não houver uma relação de referências bibliográficas, não perder tempo com ela;
  • ir direto nas páginas preparadas nas universidades. Entre estas, dar prioridade àquelas que apresentam a bibliografia usada.
  • No plano institucional, entendo que deva haver um esforço no sentido de se constituir um consórcio universitário para montagem e administração de um diretório sobre recursos para o ensino de física, algo como o Open Directory Project. Infelizmente ainda é muito pequena na Internet a quantidade de material didático nacional de boa qualidade. Em inglês temos uma razoável quantidade de boas páginas, algumas das quais coloquei no meu diretório.



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