Capitulo 5 - Raios-X

Difração de Raios X

Por volta de 1912, Max von Laue concebeu a possibilidade de realizar difração de raios X, utilizando uma estrutura cristalina como rede de difração tridimensional. As primeiras experiências foram realizadas por dois alunos de Laue, Walter Friedrich e Paul Knipping. Logo depois William Henry Bragg e seu filho William Lawrence Bragg demonstraram a relação que passou a ser conhecida como lei de Bragg, fundamental para o estudo de estruturas cristalinas com o uso da difração de raios X.

Antes de discutirmos a difração de raios X, vejamos como este fenômeno foi observado com a luz visível. Quase toda criança diverte-se com sombras das mãos formadas na parede. Se ao invés de uma mão, colocarmos uma bola de tênis, a imagem será um círculo, cujo diâmetro depende da distância entre a bola e o anteparo. Se colocarmos bolas cada vez menores, teremos sombras cada vez menores. Essa redução no tamanho da sombra não é ilimitado. Vai chegar um momento, quando a bola tiver um diâmetro inferior a um milímetro, em que ao invés de um círculo escuro na parede, vamos observar uma figura mais ou menos assim:

difração

Fig. 5.7

Esse padrão, círculos claros alternados por círculos escuros, é denominado de padrão de difração. É o padrão de difração da minúscula bola de tênis. Isso ocorre sempre que o obstáculo (bola de tênis) tiver dimensões da ordem de alguns comprimentos de onda da luz incidente. No caso da luz visível, cujo comprimento de onda é da ordem de 500 nm, basta que o obstáculo tenha menos de um milímetro. O fenômeno é exatamente o mesmo, se ao invés de uma bola, usarmos um furo numa folha de papel, ou uma fenda. Quando a luz passa por essa fenda, ela se difrata.

Vejamos um aplicativo JAVA para ilustrar o fenômeno.

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Fig. 5.8

Varie o comprimento de onda e dimensão da fenda. Observe o padrão de difração. Uma situação visualmente interessante ocorre quando l=697 nm e a fenda é igual a 1493 nm.

O que acontecerá se a luz passar por duas fendas, minúsculas e próximas uma da outra?

A luz se difrata ao passar por cada uma. Se colocarmos um anteparo na frente das duas fendas, veremos outro tipo de fenômeno: a interferência. Esquematicamente, isso é assim:

interferência

Fig. 5.9

A imagem que se observa é muito semelhante àquela observada no caso da difração. Nos pontos claros, onde há luz, diz-se que ocorreu uma interferência construtiva. Nos ponto escuros, ocorreu uma interferência destrutiva. Tudo isso foi descoberto no início do século 18, e faz parte do estudo da ótica. Este experimento é conhecido como experimento de interferência com dupla fenda, ou simplesmente experimento de Young, seu autor.

Logo foi demonstrado que ocorre interferência construtiva sempre que a diferença de caminho ótico entre os raios que saem das fendas é um número inteiro do comprimento de onda da luz incidente.

No aplicativo JAVA a seguir, veremos que o padrão é realmente muito parecido com o anterior, mas o número de franjas de interferência (os claros no padrão) é maior.

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Fig. 5.10

Coloque l=652 nm e a separação entre as fendas igual a 1300 nm. Observe que agora usa-se a separação entre as fendas. As larguras das fendas devem ser da ordem de alguns comprimentos de onda.

A condição de interferência construtiva ocorre quando

dsenq=nl,
onde q é o ângulo de observação (veja no aplicativo) e n é um número inteiro. dsenq é a diferença de caminho ótico entre os raios que saem das duas fendas. A observação das franjas de interferência permite calcular a separação entre as fendas.

A situação continua semelhante, se ao invés de uma fenda dupla usarmos várias fendas igualmente espaçadas. Este arranjo é conhecido como rede de difração. Assim, a observação das franjas de difração (ou franjas de interferência) permite calcular a separação entre as fendas. Lembre-se do que foi dito acima: a situação é exatamente a mesma, se ao invés de fendas usarmos obstáculos. Isto é, se colocarmos uma fileira de minúsculas esferas, igualmente espaçadas (espaçamento inferior a meio milímetro), este arranjo vai produzir um padrão de difração quando iluminado com uma luz, de preferência monocromática.

Vamos repetir: a difração ocorre quando o espaçamento entre as fendas (ou obstáculos) for da ordem de alguns comprimentos de onda da luz incidente. No caso dos raios X, vimos que l @ 0,1 nm. No início do século 20, era absolutamente impossível a fabricação de uma rede de difração nanométrica. Foi a genialidade de Laue que nos conduziu à difração de raios X, usando material cristalino como rede de difração tridimensional. A figura abaixo ilustra o arranjo atômico em um material cristalino. As esferas vermelhas representam os átomos. O material ilustrado apresenta uma estrutura cúbica de face centrada.

difração

Fig. 5.11

Nessa estrutura, os átomos funcionam como obstáculos, ou centros de espalhamento dos raios X. Os cristais são formados quando bilhões e bilhões de estruturas idênticas são colocadas lado a lado. Desse modo, formam-se famílias de planos atômicos, separadas por distâncias inferiores a 1 nm.

A Fig. 5.12 ilustra o arranjo experimental.

lei de Bragg

Fig. 5.12

Um feixe de raios X incide sobre um conjunto de planos cristalinos, cuja distância interplanar é d. O ângulo de incidência é q. Os feixes refletidos por dois planos subseqüentes apresentarão o fenômeno da difração. Isto é se a diferença entre seus caminhos óticos for um número inteiro de comprimentos de onda, haverá superposição construtiva (um feixe de raios X será observado); caso contrário, haverá superposição destrutiva, i.e. não se observará qualquer sinal de raios X. Use estas informações e mostre, a partir da Fig. 5.12, que

2dsenq =nl ,

onde l é o comprimento de onda da radiação utilizada, e n é um número inteiro.

A expressão acima é conhecida como lei de Bragg e desempenha papel fundamental no uso da difração de raios X para estudos cristalográficos. Use o aplicativo abaixo para entender um pouco mais o fenômeno da difração. Não esqueça, os fundamentos são idênticos, quer seja com a luz visível ou com os raios X. O aplicativo ilustra muito bem o significado da lei de Bragg. Quando a diferença de caminho ótico entre dois feixes é igual a um número inteiro de comprimentos de onda, isto significa que as ondas estão em fase, ou dito de outra forma, os máximos e mínimos de uma onda coincidem com os máximos e mínimos da outra. Quando a lei de Bragg não é satisfeita, isto é, quando a diferença de caminho ótico não é um número inteiro de comprimentos de onda, as ondas estão fora de fase. Nestes casos, os máximos e mínimos de uma onda aparecem deslocados em relação aos máximos e mínimos da outra onda. Observe isso no aplicativo. É mais fácil de ver isso clicando no botão "details".

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Coloque, por exemplo, o ângulo "theta" igual a 40. Verifique que a lei de Bragg é satisfeita quando "lambda"=3.86.

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