NEBULOSAS

 

Da explosão de uma supernova na constelação de Touro, observada no ano 1054, originou-se a nebulosa do Caranguejo, corpo celeste de núcleo azulado, cercado por uma rede de filamentos avermelhados e sinuosos.

Nebulosa de Caranguejo, foto do VLT.

Nebulosa é um corpo celeste gasoso e nevoento formado de uma concentração de gás ou poeira estelar, ou uma combinação de ambos, que ocorre no espaço interestelar. A designação se aplicou inicialmente a qualquer objeto de aparência difusa situado fora do sistema solar e que, ao telescópio, parecesse uma área luminosa ou escura, em contraste com as estrelas, cuja imagem é pontual. Essa primeira definição, no entanto, adotada numa época em que os instrumentos não permitiam divisar com maior detalhamento objetos muito distantes, abrange equivocadamente duas classes de objetos que não têm relação entre si: as nebulosas extragalácticas, atualmente denominadas galáxias, enormes conjuntos de estrelas e gás; e as nebulosas galácticas, massas muito menores de gás (com vestígios de partículas sólidas) localizadas numa única galáxia. Atualmente, os astrônomos usam a palavra nebulosa somente para se referirem ao segundo tipo. O conjunto das nebulosas galácticas constitui apenas uma pequena porcentagem da massa de uma galáxia.

Observação de nebulosas. Os astrônomos gregos Hiparco e Ptolomeu já registravam a existência de "nuvens de estrelas". Em 1610, dois anos após a invenção do telescópio, a nebulosa de Órion, que a olho nu parece uma estrela, foi descoberta pelo francês Nicolas-Claude Fabri de Peiresc. Em 1656, o holandês Christiaan Huygens, que usou instrumentos muito superiores, foi o primeiro a descrever a brilhante área interior de uma nebulosa e a determinar que sua estrela interior não é única, mas sim um compacto sistema quádruplo - o bem conhecido "trapézio", nome pelo qual ainda hoje são designadas as regiões interiores de uma nebulosa.
No início do século XVIII, os astrônomos concentraram suas observações na localização de cometas, atividade cujo subproduto foi a descoberta de muitas nebulosas brilhantes. A mais extensa compilação desse trabalho foi realizada pelo francês Charles Messier, em 1781, e pelo britânico William Herschel e seu filho John, entre o início e meados do século XIX. A nomenclatura adotada nesses catálogos ainda hoje serve para identificar algumas galáxias.
O advento da fotografia representou uma verdadeira revolução na compreensão das nebulosas, pois permitiu o registro de detalhes invisíveis a olho nu e a distâncias antes inimagináveis. Na década de 1880 fotografou-se pela primeira vez a nebulosa de Órion. Outro grande avanço foi a possibilidade de se estudar a natureza dos corpos celestes por meio da espectroscopia, pois é grande a diferença entre os espectros de uma estrela e de um gás. Graças a isso foi possível distinguir galáxias de nebulosas.
Ao longo do século XX, novas invenções e aprimoramentos dos aparelhos permitiram detectar grandes nebulosas de pouco brilho com o auxílio de câmaras mais velozes e chapas fotográficas mais sensíveis. Posteriormente, aparelhos fotoelétricos aumentaram a eficiência das técnicas fotográficas. No fim do século XX, as pesquisas sobre nebulosas eram feitas quase exclusivamente por meio desses aparelhos. Finalmente, com a utilização de satélites espaciais, passaram a ser estudados os raios X e ultravioleta presentes no espectro das nebulosas e que, de outra maneira, seriam absorvidos pela atmosfera da Terra. Com essas e outras inovações, os cientistas puderam adquirir um razoável conhecimento teórico das nebulosas.

Classificação e características das nebulosas. Em função de sua aparência, as nebulosas galácticas se dividem em duas classes principais: obscuras e brilhantes. As obscuras parecem manchas negras no céu. Normalmente têm forma irregular, absorvem a luz das estrelas mais distantes e em seu interior se formam as estrelas. As nebulosas brilhantes, que parecem superfícies pouco luminosas, emitem luz própria ou refletem a de estrelas próximas. Com base em sua origem e detalhes de sua aparência, as nebulosas brilhantes se subdividem em difusas, de reflexão, planetárias e supernovas remanescentes.
Em geral de pouca luminosidade e forma irregular, as nebulosas difusas emitem radiação que elas mesmas produzem. Seu tamanho e sua massa podem variar muito e não há limite mínimo, pois deve haver uma pequena nebulosa difusa em torno de quase todas as estrelas. As maiores têm cerca de 200 anos-luz, mas uma difusa típica mede cerca de trinta anos-luz e tem densidade de dez átomos por centímetro cúbico. A única nebulosa visível a olho nu, a de Órion, é a mais brilhante e estudada entre as difusas.

Nebulosa de Órion, nebulosa do tipo difusa.

 

As nebulosas de reflexão recebem esse nome porque refletem a luz de uma estrela próxima. Foram descobertas a partir de uma observação feita na constelação das Plêiades em 1912 e cerca de sessenta por cento de sua luminosidade se deve à reflexão.

Nesta imagem vemos o aglomerado das Plêiades. Nota-se quem em volta das recentes etrelas desta constelação, encontra-se ainda o material que as originou. Este material gasoso forma uma nebulosa de reflexão.

 

O terceiro tipo são as nebulosas planetárias, das quais se registram mais de vinte mil na Via Láctea, assim chamadas porque, ao telescópio, parecem imagens desfocadas de planetas. Sua aparência é a de anéis quase simétricos e de razoável brilho superficial, com um núcleo, ou estrela central. Comparadas às difusas, são pequenas, com raio típico de um ano-luz, e muito mais densas, com mil a dez mil átomos por centímetro cúbico. Uma das maiores e mais próximas é a da Hélice, na constelação de Aquário.

Nebulosa Planetária Olho de Gato (NGC 3070), constelação de Dragão. É uma intrincada teia de jatos de gases em torno de uma estrela em seus últimos momentos de vida. Essa nebulosa tem apenas 1000 anos de idade e está a 3000 anos luz da Terra. Os astrônomos suspeitam que este seja um sistema binário, ou seja, existem duas estrelas orbitando um ponto comum. Isso explicaria as estranhas figuras desenhadas pelos gases no espaço. Os jatos de gases da estrela central comprimem para longe o material interestelar, criando o primeiro halo luminoso. Os gases expelidos pela vizinha invisível criam o segundo halo, em ângulo reto com o primeiro.

 

Finalmente, as supernovas remanescentes são nebulosas gasosas resultantes das camadas em expansão ejetadas por uma supernova (espécie de explosão estelar). Escassas na Via Láctea, são observadas em maior número em outras galáxias.